Momentos depois, a corporação teria recebido denúncias de que eles estavam no fim de linha do bairro. Com isso, teria ocorrido troca de tiros entre agentes e suspeitos, com um dos criminosos baleado. O suposto assaltante seria Welson, levado para o Hospital Eládio Lasserre, onde morreu durante uma cirurgia. Os militares teriam ainda apreendido com ele um revólver e munições de calibre 38, além da motocicleta.
Cerca de quatro meses após o crime, a TV Bahia reuniu informações que contestam os relatos policiais. Tanto imagens da área quanto os depoimentos das vítimas do assalto indicam que Welson não estava armado.
De acordo com a Embasa, o funcionário trabalhou regularmente o dia inteiro no dia 9 de julho. Registros da empresa mostram que ele deixou o posto de trabalho às 19h18, pilotando uma moto e com um colega na garupa.
Um outro vídeo, às 19h46, mostra Welson sozinho, trafegando pela praça de Castelo Branco após deixar o amigo em casa. Foram apenas quatro minutos entre o ponto onde ele deixou o parceiro e foi interceptado pela polícia, na Rua Caminho 35.
O relógio marcava 19h50 quando Welson foi visto desarmado e recebendo o tiro. Pelas imagens, é possível ver que a vítima levantou uma das mãos no momento em que policiais e a viatura se aproximaram.
Depois, às 19h52, um dos agentes levantou a moto e colocou o veículo no canto da pista.
Na sequência, os agentes mudaram a posição de Welson e suspenderam a camisa dele. Oito minutos se passaram até que a viatura da 47ª CIPM/Pau da Lima se movimentou e uma segunda viatura, da mesma companhia, chegou ao local.
Somente às 19h59, Welson foi colocado no carro dessa segunda equipe, que não participou da ação inicial. Às 20h, exatos 10 minutos após o disparo, ele foi levado para o Hospital Eládio Lasserre.
O trabalhador chegou vivo à unidade de saúde, passou por cirurgia, mas morreu às 21h20. A perícia aponta que a causa da morte foi traumatismo abdominal provocado por arma de fogo.
O médico que atendeu Welson confirmou que ele deu entrada no hospital com farda e crachá da Embasa. De acordo com o profissional de saúde, o jovem estava acordado e consciente, mas não chegou a dizer quem disparou o tiro. Policiais militares estavam presentes no momento do atendimento.
Conforme apurado pela TV Bahia, o inquérito policial constatou as divergências nos depoimentos dos militares. Os PMs afirmaram que a viatura usada na ocorrência estava danificada e sem condições de trafegar até o hospital, por isso teriam acionado a segunda equipe. Porém, o veículo da 47ª CIPM/Pau da Lima percorreu 4,5 km até a base policial — a distância entre a Rua 35, local da ocorrência, e a unidade de saúde era menor: 4,2 km.
Os agentes também disseram em depoimento que, após confronto com os suspeitos e o pedido de socorro, várias pessoas teriam se aproximado do local, entre elas as vítimas do roubo. De acordo com os militares, a mulher roubada teria reconhecido o trabalhador baleado como um dos autores do crime ao apontar e dizer, repetidamente: "Foi ele".
No entanto, o casal que teve a moto roubada não confirmou essa versão em depoimento. O rapaz disse que foi questionado se o homem caído era o ladrão, mas respondeu que não sabia. Ele disse que os militares, então, afirmaram que Welson estava junto com os outros suspeitos.
Já a moça declarou: "Nem cheguei perto do homem que estava ao solo. Só passei perto ao atravessar, mas nem olhei para o rosto dele. Em nenhum momento, os policiais mostraram alguma arma que estaria com o homem ao solo nem outros objetos. Não tenho como afirmar que o indivíduo que estava ao solo foi um dos autores do roubo que sofri".
Diante dos fatos que vieram à tona, a TV Bahia voltou a procurar as forças de segurança. Em nova nota, a Polícia Militar disse que uma sindicância foi instaurada pela Corregedoria, "com o objetivo de investigar denúncias sobre possível excesso cometido por parte dos policiais envolvidos na ocorrência". Segundo a corporação, a sindicância encontra-se em fase final de apuração — a pendência é a conclusão de laudos periciais.
Também por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou que determinou a apuração do caso e reforçou que a Corregedoria e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil investigam a morte.
Em 27 de novembro, a assessoria do Ministério Público da Bahia informou, por meio de nota, "que acompanha com rigor as investigações do caso, que correm sob sigilo". O MP sinalizou que o inquérito policial estava em andamento de forma regular e o "prazo para conclusão da investigação foi estendido com o objetivo de que sejam exauridas todas as diligências investigativas necessárias para produção de provas técnicas".