Durante visita à fábrica da BYD em Camaçari, na manhã desta terça-feira (1º), o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, afirmou que a entidade não aceitará trabalhadores estrangeiros na linha de produção. “O Sindicato dos Metalúrgicos não aceitará chineses na linha de produção. A linha de produção operacional é dos baianos. Se tiver um chinês dando treinamento, tudo bem, isso tem prazo de validade: três, quatro, cinco, até seis meses. Mas ad eternum, não”, afirmou em entrevista ao Mais Região.
A BYD apresentou a primeira parte do complexo industrial em construção no local onde funcionava a antiga fábrica da Ford. Apesar da expectativa com o avanço das obras, a inauguração oficial ainda não foi definida, pois depende da conclusão do galpão principal, que já está praticamente pronto e possui 154.000 m², próximo à estrutura anterior da montadora americana.
Bonfim destacou ainda as preocupações do sindicato com o processo de contratação da montadora chinesa. “Essa inauguração da montadora é um momento importantíssimo para a economia local. O sindicato tem tido algumas preocupações, nas contratações como um todo, em termos de volume e também nas paridades referentes às contratações. Achamos que temos que ter contratação de mulheres. Não podemos ter limitação de contratação, como algumas vagas que vêm com até 30 anos de idade. O sindicato não aceita isso”, afirmou.
Segundo ele, é inaceitável também que a BYD crie obstáculos para ex-funcionários da Ford ou de empresas de autopeças do antigo complexo industrial de Camaçari. “Não aceitamos que a empresa ache que trabalhadores antigos ou ex-funcionários do complexo sejam ‘viciados’. Por terem orientação política ou histórico de luta de classe aqui em Camaçari, com excelentes PLRs, com bons salários, isso não quer dizer que o trabalhador seja incompetente ou não possa participar do processo produtivo da empresa”, defendeu.
Bonfim também criticou a baixa absorção desses profissionais pela nova montadora. “A empresa tem contratado muitos trabalhadores novos. Hoje, 80% dos 700 trabalhadores contratados são novos e somos afavor disso, mas queremos também que contratem os ex-funcionários do complexo Ford. Se não, muda-se a lógica da coisa. A empresa veio para dar emprego aos baianos”, reforçou.
Durante a entrevista, Júlio Bonfim também manifestou preocupação com o modelo produtivo que está sendo adotado inicialmente pela BYD. Para ele, ainda não está claro se os veículos da montadora chinesa serão de fato fabricados em Camaçari ou apenas montados a partir de peças importadas. “Temos que tomar alguns cuidados. Toda montadora inicia com um processo CKD, isso é normal. O problema é isso se tornar algo permanente”, alertou. Ele se refere ao sistema CKD (Completely Knocked Down), em que os veículos chegam ao país em partes totalmente desmontadas, e ao SKD (Semi Knocked Down), quando os carros vêm parcialmente montados.
Segundo Bonfim, a solicitação feita pela BYD ao governo federal para manter, por três anos, a redução de impostos sobre esses formatos de importação preocupa o sindicato: “A BYD pediu ao governo federal a redução do imposto por três anos. Não achamos essa posição positiva, porque sinaliza que a fabricação nacional pode demorar até 2028 ou 2029”.
Bonfim avalia que a estrutura ainda não conta com setores fundamentais para caracterizar uma montadora completa. “Ainda hoje não tem body shop, não tem pré-shop, não tem funilaria, não tem pintura, não tem engenharia, não tem desenvolvimento, não tem rastreabilidade e não tem fornecedores. Tudo isso é necessário para se tornar uma fábrica. Isso vai acontecer, como foi com a Ford no início. Todo início de relação tem ajustes”, disse.
Ao final, o presidente reforçou que o sindicato seguirá cobrando a efetiva produção local e o cumprimento das promessas de emprego para os trabalhadores baianos: “Acreditamos que o processo de fabricação de veículos vai se concretizar. O sindicato está cobrando não só pela produção local, mas pelas vagas que foram prometidas à sociedade baiana”.
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